A Ilha do Marajó, maior arquipélago flúvio-marítimo do mundo, situada no estado do Pará, busca uma virada econômica significativa por meio da bioeconomia, com foco na produção de açaí.
A bioeconomia é um conceito que abrange o uso sustentável de recursos biológicos para a produção de bens, serviços e energia. Ela se baseia na valorização e otimização de processos que envolvem organismos vivos, como plantas, animais e microorganismos, visando não apenas a geração de produtos, mas também a preservação dos ecossistemas e a promoção do desenvolvimento socioeconômico. A bioeconomia inclui setores como agricultura, florestas, pesca, saúde, energia renovável e biotecnologia, buscando soluções inovadoras e ambientalmente sustentáveis para atender às necessidades humanas.
No Brasil, o termo é novo, mas a ciência não. Na verdade, a bioeconomia já é realidade no País desde a década de 1970, quando foi criado o Programa Nacional do Álcool (Proálcool). Graças a essa iniciativa, surgida na época para enfrentar a crise mundial do petróleo, o Brasil é hoje o segundo maior produtor mundial de etanol e o maior exportador mundial.
A principal diferença da bioeconomia atual em relação à do passado é o uso intensivo de novos conhecimentos científicos e tecnológicos, gerados a partir de áreas de ponta como a biotecnologia industrial, genômica, biologia sintética, bioinformática, química de renováveis, robótica, tecnologias de informação, nanotecnologia, entre outras. Vale destacar também que o potencial da bioeconomia não se restringe à produção de bioenergia.
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ILHA – Atualmente, a região do Marajó enfrenta desafios marcados pelos menores índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil, conforme dados da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (FAPESPA), o que afeta cerca de 610 mil habitantes distribuídos nos 16 municípios da ilha.
A economia local se baseia predominantemente no extrativismo, com o açaí, no entanto obstáculos como a falta de acesso ao crédito rural e assistência técnica comprometem o pleno desenvolvimento dessa atividade. A bioeconomia, centrada no cultivo sustentável do açaí, emerge como uma alternativa promissora, proporcionando não apenas ganhos econômicos, mas também contribuindo para a preservação ambiental.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) trabalha no desenvolvimento de tecnologias que visam aprimorar a produção de açaí, buscando conciliar aumento de produtividade com a conservação da florestas amazônica. Uma das soluções é o manejo sustentável, pode elevar a produção de açaí de 1 para 5 toneladas, impactando positivamente a renda das comunidades.
A bioeconomia na Ilha do Marajó não apenas promete revitalizar a economia local, mas também contribuir para a geração de empregos e melhoria nas condições de vida da população. O aumento da produtividade do açaí, aliado à expansão da assistência técnica e crédito rural, é essencial para transformar a realidade socioeconômica da Ilha, colocando-a no mapa como uma referência positiva em bioeconomia na região amazônica.
Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a bioeconomia movimenta no mercado mundial 2 trilhões de Euros e gera cerca de 22 milhões de empregos. Estudos da organização apontam que a bioeconomia responderá, até 2030, por 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB) dos seus países membros.
Esses números podem ser ainda mais robustas em países como o Brasil, que dispõe de grande biodiversidade e políticas públicas para fortalecer as cadeias produtivas que utilizam os recursos naturais de forma sustentável e consciente (dados do The Bioeconomy to 2030: Designing a Policy Agenda. OCDE, 2009). Além disso, as atividades do setor estão no cerne de pelo menos metade dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, desde a segurança alimentar até a garantia de acesso à energia e saúde.